Quem sou eu

Minha foto
Jaguariúna, SP, Brazil
Advogado e contabilista em Jaguariúna, SP. Sócio convidado da ACRIMESP - Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo, desde 11 de agosto de 1997, título de cidadão jaguariunense pelo Decreto Legislativo 121/1997 e membro titular do CONPHAAJ - Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico de Jaguariúna, nos biênios 2011 a 2012 e 2017 a 2018,

terça-feira, 27 de março de 2012

A intriga do cachorro com o gato

Quando adolescente meu pai costumava contar, de memória, essas quadras da literatura de cordel. Eu e meus irmãos ouvíamos atentos e dávamos muitas risadas da intriga do cachorro com o gato.


A Intriga do Cachorro com o Gato

Autor: J. Ferreira da Silva


A intriga é mãe da raiva
O mau pensamento é pai
Da casa da malquerença
O desmantelo não sai
Enquanto a intriga rende
A revolução não cai.

Quando cachorro falava
Gato falava também
Gato tinha uma bodega
Como hoje os homens têm
Onde vendia cachaça
Encostado ao armazém.

Com a balança armada
Para comprar cereais
E na bodega vendia
Bacalhau, açúcar e gás
Bolacha, café, manteiga
Miudezas e tudo mais.

Quando no tempo de safra
Comprava mercadoria
Chegada no armazém
Que todo bicho trazia
Vou dizer pela metade
Esta grande freguesia.

O peru vendia milho
O porco feijão e farinha
Com um cacho de banana
Mais tarde o macaco vinha
Raposa também trazia
Um garajau de galinha.

Carneiro passava a noite
Junto com sua irmã
Descaroçando algodão
E quando era de manhã
Para o armazém do gato
Botava sacos de lã.

Guariba vendia escova
Que fazia do bigode
Urubu vendia goma
Porque tem de lavra e pode
A onça suçuarana
vendia couro de bode.

Então todo bicho tinha
No armazém seu contrato
Porém vamos deixar isto
Para tratar de outro fato
Relativo à intriga
Do cachorro com o gato.

Rei leão mandou cachorro
Efetuar uma prisão
O cachorro passando
Na venda do gato então
Pediu para beber fiado
E o gato disse: pois não.

Subiu na pratileira
Uma garrafa desceu
Um cruzado de cachaça
O cachorro ali bebeu
Botou fumo no cachimbo
Pediu fogo e acendeu.

E disse compadre gato
Eu vou prender o preá
Porque carregou a filha
Do coronel cangambá
E mesmo já deve a honra
Da filha do seu guará.

E tornou dizer compadre
Bota mais uma bicada
Eu só sei prender valente
Depois da gata esporada
O gato sorriu e disse:
Esta não lhe custa nada.

O gato bebeu também
O cachorro repetiu
Botou o copo na banca
Saiu na porta e cuspiu
O gato puxou um lenço
Limpou a barba e tossiu.

Embebedaram-se os dois
Garrafas secaram 3
Cachorro fez um discurso
Falava em língua inglês
Gato embolava no chão
Também falando francês.
A gata mulher do gato
Saiu do quarto veio cá
E disse muito zangada
Vocês dois procedem mal
O gato disse: mulher
Da porta do meio pra lá.

O gato ficou deitado
O cachorro foi embora
Ouviram dizer: ô de casa
A gata disse: ô de fora
E quem é respondeu raposa
Sou eu que cheguei agora.

Disseram entre comadre
O gato levantou-se
Sentou-se numa cadeira
Esposa também sentou-se
Ele contou à raposa
De que forma embebedou-se.

A raposa disse: compadre
Você não pensou direito
Bebendo com o cachorro
Um safado sem respeito
Se seus amigos souberem
O senhor perde o conceito.

Beba com os seus amigos
Seu irmão maracajá
O tenente porco-espinho
E o capitão guará
Major porco e doutor burro
E o coronel cangambá.

Eu também gosto da troça
Bebo, danço e digo loas
Mas com gente igual a mim
Civilizadas e boas
Que não vou andar com gente
De qualidade à-toa.

Só me dou com gente boa
Como compadre urubu
Dona ticaca de souza
E dona surucucu
A professora jibóia
E o meu primo timbu.

Você é conceituado
Da roda palaciana
Cachorro vive na rua
Tanto furta como engana
Com o baralho no bolso
Jogando e bebendo cana.
E ele compra fiado
Porque quer mas ele tem
Uma muchila de níquel
Que por detrás se vê bem
Pindurada balançando
Porque não paga a ninguém.

O gato se pôs em pé
Perguntou admirado
Comadre, isto é verdade?
Ele me deve um cruzado
Eu não dei fé na muchila
Por isto vendi fiado.

Porém eu vou atrás dele
Daquele cabra estradeiro
Dou-lhe um bote na muchila
Arranco e tiro o dinheiro
Sendo eu disse a raposa
Passava o granadeiro.

O gato se preparou
Amarrou o cinturão
Correu as balas no rifle
Passou lixa no facão
Botou um quarto e bebeu
De aguardente com limão.

Chegou lá disse ao cachorro:
É triste o nosso progresso
Você paga o meu cruzado
Ou quer que eu pague um processo
Cachorro afastou o pé
E lhe disse eu não converso.

Ali deu um tiro e disse:
É assim que eu despacho
Porém o gato abaixou-se
Passou-lhe o rifle por baixo
Deu-lhe uma balada certa
Que quase derruba o cacho.

O cachorro que também
Tem pontaria fiel
Tornou passar a pistola
A bala deu um revel
Cortou-lhe o rabo no tronco
Que descobriu o anel.

Depois que trocaram tiros
Divertiram no punhal
Pulava o gato de costas
E dava salto mortal
Cachorro por sua vez
Também traquejava igual.

E ali trancou-se o tempo
Na porta do barracão
Da baronesa preguiça
Comadre do rei leão
E ela telegrafou
Pedindo paz na questão.

O leão passou depressa
Um telegrama pra trás
Minha comadre alevante
A bandeira e grite paz
Ela não tinha bandeira
Levantou a macaxeira
E ali ninguém brigou mais.

quarta-feira, 21 de março de 2012

ADVOGADO PODE PROTESTAR CONTRATO DE HONORÁRIOS, DIZ OAB


A cobrança de honorários advocatícios de cliente inadimplente via protesto do próprio contrato não ofende o Código de Ética e Disciplina (CED) da OAB, de acordo com parecer do Órgão Especial do Conselho Federal da Ordem, assinado pelo conselheiro federal, Luiz Saraiva Correia.
O relatório responde a consulta feita pela advogada Júlia Elmôr da Costa, do Rio de Janeiro, que questionava se seria legal o protesto desses honorários por advogados em caso do não pagamento dos valores pelo cliente.

O conselheiro da OAB analisou o caso a partir do artigo 42 do CED, que impede o saque de duplicatas ou qualquer outro título de crédito de natureza mercantil, exceto emissão de fatura, vedando seu protesto, no caso de crédito por honorários advocatícios.

O parecer da Ordem, datado de 13 de dezembro de 2011, cita decisão do Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da OAB SP, segundo a qual o protesto de honorários em caso de inadimplência não pode ser feito, pois o contrato se sujeita ao Estatuto da OAB e ao CED, que repudiam a mercantilização e a ofensa ao sigilo profissional. No entanto, por se tratar o contrato escrito de honorários de título executivo extrajudicial, poderia ser cobrado judicialmente, sem necessidade de protesto.

O conselheiro cita também que a admissão pelo TED da cobrança de honorários por boleto bancário, desde que prevista no contrato ou autorizada pelo cliente e sem discriminação do serviço. São mencionados ainda entendimentos de TEDs de outras seccionais da Ordem, que deram ao artigo 42 do CED análise mais ampla, admitindo o protesto de alguns títulos.

Segundo o relator do caso, o que está proibido aos advogados é o protesto de títulos de sua emissão, como credor, já que títulos representativos da dívida podem, em tese, circular no mercado, sendo confundidos com aqueles que permitem endosso, faturização etc. No entanto, isso não ocorreria com contrato de honorários advocatícios, documento de dívida de natureza não mercantil, devido ao seu sigilo.

O parecer conclui pela possibilidade do protesto, desde que feito de forma moderada e resguardando o sigilo profissional, ressaltando a possibilidade da cobrança judicial. De acordo com Correia, se o contrato produziu dependência recíproca de obrigações, seu surgimento não se deu unicamente a partir da vontade do advogado, hipótese em que poderá ser exigido seu cumprimento na forma da Lei 9.492/97 (Lei de Protesto).

FONTE: Site da OAB/SP.

SÍNDROME DO PÂNICO


Viviane Sampaio

As crises de pânico estão entre os diagnósticos mais frequentes que levam os pacientes a procurar serviços de emergência, pois aproximadamente 43% dos pacientes com crises de pânico são atendidos pela primeira vez em unidades de pronto-socorro, sendo que 15% destes chegam ao local de atendimento em ambulâncias devido à intensidade do quadro (Porto, 2003).

A seguir descreverei como acontece uma crise de pânico: "De repente, começo a passar mal. Meu coração está batendo forte, disparado. Estou com dificuldade para respirar. Minha garganta parece que está fechando. Minha boca está seca. Estou quente e suando muito. Devo estar com febre e minha pressão deve estar altíssima. Minhas pernas estão completamente bambas. Minhas mãos estão tremendo. Estou enjoada. Tonta. Confusa. Acho que vou desmaiar. Tenho a sensação de que algo horrível está prestes a acontecer comigo e não posso fazer absolutamente nada. Meu braço está formigando. Estou tendo um derrame! Vou direto ao pronto-socorro do hospital mais próximo. Tenho certeza que vou morrer! Devo estar enfartando! No hospital, o médico faz um eletrocardiograma e uma bateria de exames; diagnóstico: Não tenho nada.”

A ocorrência freqüente desses ataques configura a doença chamada Transtorno do Pânico (TP). Atualmente, atinge de 3% a 4% da população mundial. Na maioria das vezes, afeta pessoas jovens, na faixa etária entre 21 e 40 anos, sendo observado um grau de incidência três vezes maior entre as mulheres do que nos homens (Rangé, 2001).

O que fazer?
“Se uma pessoa sofre um ataque de pânico isolado e sem conseqüências, isso não significa que ela seja portadora do transtorno do pânico. Algumas condições, como o estresse no trabalho e o uso de substâncias, como álcool, o fumo e a cafeína, podem eventualmente desencadear ataques de pânico, ou também chamados de ataques de “ansiedade grave”.Entretanto, se estes passarem a ter uma característica de repetição e forem seguidos de uma preocupação persistente da pessoa de ter um novo ataque, ou de suas conseqüências, como ter um ataque cardíaco ou um derrame, o transtorno do pânico poderá ser considerado, desde que estes últimos não sejam causados por uma doença física (por exemplo, hipertireoidismo). É importante lembrar também que os ataques de pânico devem ser espontâneos, isto é, “vindos do nada”, e não relacionados a objetos e situações particulares, o que é mais característico das fobias (por exemplo, fobia de voar em avião, fobia de falar em público, fobia de dirigir, etc.).” (Barros Neto, 2000)

Qual é o melhor tratamento?
O tratamento é psicoterapia e/ou medicação. Dependerá do grau, tempo de existência da doença e do comprometimento do dia-a-dia da pessoa. É comum que os pacientes, após terem um ataque de pânico, passem a ter medo de ter um novo ataque em qualquer situação como dirigir, ir a festas, supermercado, banco, cinema, etc. Casos em que a doença está avançada podem ter 2 ou 3 ataques por dia, o que impossibilita muito a sua concentração no trabalho. Desta forma, começam a evitar saídas, mesmo acompanhados com pessoas confiáveis. Portanto, a doença pode afetar muito a vida, carreira e o dia-a-dia tanto do paciente quanto daqueles que convivem com o mesmo. (Savoia, 2001)

Como é o tratamento psicológico na Terapia Cognitiva do Pânico?
Recomendo ler o artigo da Psicóloga Dra. Ligia M. Ito sobre o tratamento do pânico, intitulado “Abordagem Cognitivo-Comportamental do Transtorno do Pânico”, que pode ser encontrado no link http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/28_6/artigos/art313.htm (Ito, 2001)

Referências Bibliográficas
RANGÉ, Bernard (Org.) “Psicoterapia Comportamental e Cognitiva de Transtornos Psiquiátricos”Vol. II. Editora Livro Pleno. Campinas, 2001.

BARROS NETO, Tito Paes de. Sem medo de ter medo: um guia prático para ajudar pessoas com pânico, fobias, obsessões, compulsões e estresse. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2000.

SAVOIA, Mariângela G. “Tratamento combinado do transtorno do pânico farmacológico e psicoterápico”. Artigo Original. Revista Psiquiatria Clínica. São Paulo, 2001.

ITO, Ligia M. “Abordagem Cognitivo-Comportamental do transtorno do pânico”. Revista de Psiquiatria Clínica, 28 (6): 313-317. São Paulo, 2001.

PORTO, José A. Del. “Crises de pânico na clínica médica”. Rev. Bras. de Medicina. 60(NE): 33:38-36-39. Dez, 2003.

Viviane Sampaio. Psicóloga e Coach. Consultório na Vila Mariana em São Paulo. Tel.: (11) 9808-3718, e-mail: vs@vivianesampaio.com.brou Skype clinicavivianesampaio Site www.vivianesampaio.com.br e Blogs Coaching www.coachingvs.blogspot.com ewww.vivisampaio.blogspot.com

FONTE:  Artigo publicado no site da OAB/SP.

quarta-feira, 14 de março de 2012

A chegada de Lampião no Inferno/A chegada de Lampião no Céu


A Chegada de Lampião
no Inferno

Autor: José Pacheco
Um cabra de Lampião
Por nome Pilão Deitado
Que morreu numa trincheira
Em certo tempo passado
Agora pelo sertão
Anda correndo visão
Fazendo mal-assombrado


E foi quem trouxe a notícia
Que viu Lampião chegar
O Inferno nesse dia
Faltou pouco pra virar
Incendiou-se o mercado
Morreu tanto cão queimado
Que faz pena até contar


Morreu a mãe de Canguinha
O pai de Forrobodó
Três netos de Parafuso
Um cão chamado Cotó
Escapuliu Boca Ensossa
E uma moleca moça
Quase queimava o "totó”


Morreram 100 negros velhos
Que não trabalhavam mais
Um cão chamado Trás-cá
Vira-volta e Capataz
Tromba Suja e Bigodeira
Um cão chamado Goteira
Cunhado de Satanás.


Vamos tratar da chegada
Quando Lampião bateu
Um moleque ainda moço
No portão apareceu
- Quem é você, cavalheiro?
- Moleque eu sou cangaceiro!
Lampião lhe respondeu.


- Moleque não, sou vigia!
E não sou seu "parceiro"
E você aqui não entra
Sem dizer quem é primeiro...
- Moleque, abra o portão
Saiba que eu sou Lampião
Assombro do mundo inteiro!


Então, esse tal vigia
Que trabalha no portão
Dá pisa que voa cinza
Não procura distinção
O negro escreveu não leu
A macaíba comeu
Lá não se o usa perdão.


O vigia disse assim:
Fique fora que eu entro
Vou conversar com o chefe
No gabinete do centro
Por certo ele não lhe quer
Mas conforme o que disser
Eu levo o senhor pra dentro.


Lampião disse: - Vá logo,
Quem conversa perde hora
Vá depressa e volte já
Eu quero pouca demora
Se não me derem ingresso
Eu viro tudo "asavesso"
Toco fogo e vou embora.


O vigia foi e disse
A Satanás, no salão:
- Saiba vossa senhoria
Que aí chegou Lampião,
Dizendo que quer entrar
E eu vim lhe perguntar
Se dou ingresso ou não?


- Não senhor, Satanás disse,
Vá dizer que vá embora
Só me chega gente ruim?
Eu ando muito caipora
Estou até com vontade
De botar mais da metade
Dos que têm aqui pra fora!


- Lampião é um bandido
Ladrão da honestidade
Só vem desmoralizar
A minha propriedade
Mesmo eu não vou procurar
Sarna para me coçar
Sem haver necessidade.


Disse o vigia: - Patrão
A coisa vai arruinar
Eu sei que ele se dana
Quando não puder entrar
Satanás disse: - Isso é nada,
Convide aí a negrada
E leve o que precisar.


- Leve três dúzias de negros
Entre homem e mulher
Vá na loja de ferragem
Tire as armas que quiser
É bom escrever também
Pra virem os negros que têm
Mais compadre Lúcifer.


E reuniu-se a negrada
Primeiro chegou Fuxico
Com um bacamarte velho
Gritando por Cão de Bico
Que trouxesse o pau da prensa
E fosse chamar Tangença
Na casa de Maçarico.


E depois chegou Cambota
Endireitando o boné
Formigueiro, Trupe-Zupe
E o crioulo Quelé
Chegou Banzeiro e Pacaia
Rabisca e Cordão de Saia
E foram chamar Bazé.


Veio uma diaba moça
Com uma calçola de meia
Puxou a vara da cerca
Dizendo: - A coisa está feia
Hoje o negócio se dana,
E disse: - Eita, baiana
Agora a ripa vadeia.


E lá vai a tropa armada
Em direção do terreiro
Pistola, faca e facão
Cravinote e granadeiro
E um negro também vinha
Com a trempe da cozinha
E o pau de bater tempero.


Quando Lampião deu fé
Da tropa negra encostada
Disse: - Só na Abissínia
Oh! Tropa preta danada
O chefe do batalhão
Gritou: - As armas na mão
Toca-lhe fogo, negrada!


Nessa hora ouviu-se tiros
Que só pipoca no caco
Lampião pulava tanto
Que parecia um macaco
Tinha um negro nesse meio
Que durante o tiroteio
Brigou tomando tabaco.


Acabou-se o tiroteio
Por falta de munição
Mas o cacete batia
Negro embolava no chão
Pau e pedra que pegavam
Era o que as mãos achavam
Sacudiam em Lampião.


- Chega, traga um armamento!
Assim gritava o vigia,
Trás a pá de mexer doce
Lasca os ganchos de Caria
Trás os birros de Macau
Corre, vai buscar um pau
Na cerca da padaria!


Lúcifer mais Satanás
Vieram olhar do terraço
Tudo contra Lampião
De cacete, faca e braço
E o comandante no grito
Dizia: - Briga bonito,
Negrada, chega-lhe o aço!


Lampião pôde pegar
Na caveira de um boi
Sacudiu na testa dum
Ele só fez dizer: - Oi!
Ainda correu 10 braças
E caiu enchendo as calças
Mas eu não sei de que foi.


Estava a luta travada
Mais de uma hora fazia
A poeira cobria tudo
Negro embolava e gemia
Porém Lampião ferido
Ainda não tinha sido
Devido a sua energia.


Lampião pegou um checho
E o rebolou num cão
A pedrada arrebentou
A vidraça do oitão
Saiu um fogo azulado
Incendiou-se o mercado
E o armazém de algodão.


Satanás com esse incêndio
Tocou num búzio chamando
Correram todos os negros
(Os que estavam brigando)
Lampião pegou a olhar
Não viu mais com quem brigar
Também foi se retirando.


Houve grande prejuízo
No inferno, nesse dia
Queimou-se todo o dinheiro
Que Satanás possuía
Queimou-se o livro dos pontos
Perderam seiscentos contos
Somente em mercadoria.


Reclamava Satanás:
- Horror maior não precisa
Os anos ruins de safra
E agora mais essa pisa
Se não houver bom inverno
Tão cedo aqui no Inferno
Ninguém compra uma camisa.


Leitores vou terminar
Tratando de Lampião
Muito embora que não possa
Vos dar a resolução
No inferno não ficou
No céu também não chegou
Por certo está no sertão.


Quem duvidar dessa estória
Pensar que não foi assim
Querer zombar do meu sério
Não acreditando em mim
Vá comprar papel moderno
Escreva para o inferno
Mande saber de Caim.

FONTE: LITERATURA DE CORDEL  (www.gentedanossaterra.com.br)
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
A Chegada de Lampião
no Céu

Autor: Guaipuan Vieira
Foi numa Semana Santa
Tava o céu em oração
São Pedro estava na porta
Refazendo anotação
Daqueles santos faltosos
Quando chegou Lampião.

Pedro pulou da cadeira
Do susto que recebeu
Puxou as cordas do sino
Bem forte nele bateu
Uma legião de santos
Ao seu lado apareceu.

São Jorge chegou na frente
Com sua lança afiada
Lampião baixou os óculos
Vendo aquilo deu risada
Pedro disse: Jorge expulse
Ele da santa morada..

E tocou Jorge a corneta
Chamando sua guarnição
Numa corrente de força
Cada santo em oração
Pra que o santo Pai Celeste
Não ouvisse a confusão.

O pelotão apressado
Ligeiro marcou presença
Pedro disse a Lampião:
Eu lhe peço com licença
Saia já da porta santa
Ou haverá desavença.

Lampião lhe respondeu:
Mas que santo é o senhor?
Não aprendeu com Jesus
Excluir ódio e rancor?...
Trago paz nesta missão
Não precisa ter temor.

Disse Pedro isso é blasfêmia
É bastante astucioso
Pistoleiro e cangaceiro
Esse povo é impiedoso
Não ganharão o perdão
Do santo Pai Poderoso

Inda mais tem sua má fama
Vez por outra comentada
Quando há um julgamento
Duma alma tão penada
Porque fora violenta
Em sua vida é baseada.

- Sei que sou um pecador
O meu erro reconheço
Mas eu vivo injustiçado
Um julgamento eu mereço
Pra sanar as injustiças
Que só me causam tropeço.

Mas isso não faz sentido
Falou São Pedro irritado
Por uma tribuna livre
Você aqui foi julgado
E o nosso Onipotente
Deu seu caso encerrado.

- Como fazem julgamento
Sem o réu estar presente?
Sem ouvir sua defesa?
Isso é muito deprimente
Você Pedro está mentindo
Disso nunca esteve ausente.

Sobre o batente da porta
Pedro bateu seu cajado
De raiva deu um suspiro
E falou muito exaltado:
Te excomungo Virgulino
Cangaceiro endiabrado.

Houve um grande rebuliço
Naquele exato momento
São Jorge e seus guerreiros
Cada qual mais violento
Gritaram pega o jagunço
Ele aqui não tem talento.

Lampião vendo o afronto
Naquela santa morada
Disse: Deus não está sabendo
Do que há na santarada
Bateu mão no velho rifle
Deu pra cima uma rajada.

O pipocado de bala
Vomitado pelo cano
Clareou toda a fachada
Do reino do Soberano
A guarnição assombrada
Fez Pedro mudar de plano.

Em um quarto bem acústico
Nosso Senhor repousava
O silêncio era profundo
Que nada estranho notava
Sem dúvida o Pai Celeste
Um cansaço demonstrava.

Pedro já desesperado
Ligeiro chamou São João
Lhe disse sobressaltado:
Vá chamar Cícero Romão
Pra acalmar seu afilhado
Que só causa confusão.

Resmungando bem baixinho
Pra raiva poder conter
Falou para Santo Antônio:
Não posso compreender
Este padre não é santo
O que aqui veio fazer?!

Disse Antônio: fale baixo
De José é convidado
Ele aqui ganhou adeptos
Por ser um padre adorado
No Nordeste brasileiro
Onde é “santificado”.

Padre Cícero experiente
Recolheu-se ao aposento
Fingindo não saber nada
Um plano traçava atento
Pra salvar seu afilhado
Daquele acontecimento.

Logo João bateu na porta
Lhe transmitindo o recado
Cícero disse: vá na frente
Fique despreocupado
Diga a Pedro que se acalme
Isso já será sanado.

Alguns minutos o padre
Com uma Bíblia na mão
Ao ver Pedro lhe indagou:
O que há para aflição?
Quem lá fora tenta entrar
E também um ser cristão.

São Pedro disse: absurdo
Que terminou de falar
Mas Cícero foi taxativo:
Vim a confusão sanar
Só escute o réu primeiro
Antes de você julgar.

Não precisa ele entrar
Nesta sagrada mansão
O receba na guarita
Onde fica a guarnição
Com certeza há muitos anos
Nos busca aproximação.

Vou abrir esta exceção
Falou Pedro insatisfeito
O nosso reino sagrado
Merece muito respeito
Virou-se para São Paulo:
Vá buscar este sujeito.

Lampião tirou o chapéu
Descalço também ficou
Avistando o seu padrinho
Aos seus pés se ajoelhou
O encontro foi marcante
De emoção Pedro chorou.

Ao ver Pedro transformado
Levantou-se e foi dizendo:
Sou um homem injustiçado
E por isso estou sofrendo
Circula em torno de mim
Só mesmo o lado ruim
Como herói não estão me vendo.


Sou o Capitão Virgulino
Guerrilheiro do sertão
Defendi o nordestino
Da mais terrível aflição
Por culpa duma polícia
Que promovia malícia
Extorquindo o cidadão.


Por um cruel fazendeiro
Foi meu pai assassinado
Tomaram dele o dinheiro
De duro serviço honrado
Ao vingar a sua morte
O destino em má sorte
Da “lei” me fez um soldado.


Mas o que devo a visita
Pedro fez indagação
Lampião sem bater vista:
Vê padim Ciço Romão
Pra antes do ano novo
Mandar chuva pro meu povo
Você só manda trovão.


Pedro disse: é malcriado
Nem o diabo lhe aceitou
Saia já seu excomungado
Sua hora já esgotou
Volte lá pro seu Nordeste
Que só o cabra da peste
Com você se acostumou.