Livian Pereira
Já dizia o ET Bilú: para a humanidade evoluir é necessário que todos busquem o conhecimento. Porém, com o advento da tecnologia e a criação do Yahoo respostas, da Wikipedia e do Facebook, muitas histórias inverídicas são compartilhadas como se fossem verdades absolutas.
Aposto que você já se deparou com um texto falando sobre as vantagens de namorar um barrigudinho, e sei também que já viu algum texto assinado por Arnaldo Jabor, Luís Fernando Veríssimo e outros mais. Muitas frases de efeito, que se tornam virais nessas páginas por compartilhar mensagens motivacionais, são supostamente assinadas por Clarice Lispector, Rosely Sayão, Xico Sá e outros escritores influentes de ontem e de hoje.
Acho que acreditam, ao colocar o nome de uma pessoa importante de certa notoriedade, as coisas se tornarão mais “possíveis” e ganharão maior credibilidade. Porém, essas coisas acabam apenas por fortalecer as palavras do seu avó, ao te ver sentado à frente do computador diz sempre “nessa internet só tem porcaria”, afinal, desse jeito vai ser difícil você aprender algo no Facebook.
Além de conceder a autoria de textos e imagens a pessoas importantes, muitas imagens são criadas com erros crassos que a maioria das pessoas compram como se verdade fossem, um dos exemplos mais claros disso é a imagem que fala mal do auxílio reclusão, na qual se demonstra que um benefício com um salário de valor considerável é concedido para presidiário, enquanto muitas famílias vivem abaixo da linha da pobreza e outras tantas sobrevivem apenas com um salário mínimo.
Ok, existe um benefício, ele é pago realmente pelo INSS, mas não é do jeito que as imagens mostram, acreditem em mim, já fui servidor da Previdência e sei do que falo. Resumidamente vale destacar, em primeiro lugar, que o auxílio reclusão não se destina ao preso, mas à família dele, ele não é de graça, só tem direito ao benefício se o meliante, antes de se mudar para o xilindró, estivesse trabalhando registrado. Além disso, se o cara fugir da cadeia ou for solto, o benefício é imediatamente cancelado, mas o povo em sua grande maioria não sabe disso e compartilha essas coisas com um ar de revolta estampado no rosto.
Você tem todo o direito de discordar de um benefício pago à família de um presidiário, é um direito seu, mas pense que os filhos e a esposa talvez não tenham culpa dos atos cometidos pelo meliante. Não seria ruim se o governo virasse as costas para inocentes por causa de um erro de um terceiro? Porém, ainda assim respeitaria a sua revolta com a benesse do governo se ao menos compartilhasse a imagem correta e não essas fotos sensacionalistas que circulam por ai.
E nessa última semana começou a rodar por ai uma nova imagem dizendo que a maioridade penal no Canadá se dá aos 10 anos, na Itália aos 8, na Alemanha aos 12 e assim por diante, e ao final ainda tem uma frase de impacto do tipo: E aí Brasil, vai esperar até quando?
Ora, ora, meus caros e nobres amigos, de plano adianto que a imagem é mentirosa e a maioridade nos países citados não é essa, mas apenas por amor ao debate, suponhamos que as idades realmente fossem àquelas divulgadas na imagem. Somos super parecidos com o Canadá né? Temos um dos melhores ensinos do mundo, nossas estradas não têm buracos, e a Alemanha é extremamente parecida com o nosso país também, se você desembarcar em Berlim e ninguém te avisar nada, vossa pessoa pode até imaginar que está na agradável praia de Copacabana.
Gente, para! Nós somos operadores do Direito, tivemos a felicidade de cursar uma faculdade, somos supostamente a nata de uma sociedade repleta de analfabetos e pessoas que não tem acesso aos livros, jornais e revistas. Mas, apesar desse conhecimento adquirido, insistimos em compartilhar imagens sem conhecer a veracidade delas e isso, meus nobres, é um desserviço para todo mundo, assim, eu clamo à todos, se for pra compartilhar porcaria na internet, por favor, postem imagens de bichinhos fofinhos ou vídeos de bebês caindo na gargalhada, pois pelo menos assim nenhum autor famoso vai ler um texto e pensar assim: disseram que eu escrevi essa porcaria?
Livian Pereira é criador do blog Não Entendo Direito, é advogado, pós graduado em Direito Tributário pela PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas) e pós graduando em Gestão de Tributos e Planejamento Tributário pela FGV(Fundação Getúlio Vargas).
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