Quem sou eu

Minha foto
Jaguariúna, SP, Brazil
Advogado e contabilista em Jaguariúna, SP. Sócio convidado da ACRIMESP - Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo, desde 11 de agosto de 1997, título de cidadão jaguariunense pelo Decreto Legislativo 121/1997 e membro titular do CONPHAAJ - Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico de Jaguariúna, nos biênios 2011 a 2012 e 2017 a 2018,

terça-feira, 10 de maio de 2011

A bestiliadade dos humanos

Ricardo Giuliani Neto - 09/05/2011

Não há nada tão certo na vida quanto a morte na guerra! Lá, morre-se física e moralmente.

Tão certo quanto dizer que na guerra os inocentes morrem como os culpados e que, como os culpados, estarão tão mortos quanto, é afirmar que na guerra não há justiça ou bem-querenças.

Uma vez mortos, cada um caminhará ao seu Deus; uns com comemorações nas ruas, outros, com o abandono ornamentado pelo silêncio dos matadores e de seus comparsas.

A semana passada foi interessante. A guerra matou três netos de Kaddafi e, depois de 1,2 trilhões de dólares e 10 anos de árduo trabalho, os EUA mataram, em estado de guerra – é o que afirmam – Osama Bin Laden.

Tirando a morte como lugar e tema, as comemorações de rua sobre a morte de uma pessoa, desculpem-me, a mim, chamou a atenção. Por outro lado, busquei equivalências entre a morte das crianças netas do ditador, ainda assim crianças, e a do dito maior terrorista do planeta. Se as ruas de Washington empanturraram-se de gente para os vivas aos matadores, em Washington não se viu um reparo, uma crítica, uma voz levantada contra o assassinato de três crianças na Líbia, repito, mesmo netas do ditador, ainda crianças.

Num e noutro tabloide o tema foi tratado; meia dúzia de palavras e nada mais. Nas nossas mentes, o fato sequer foi estranhado. Se as crianças estavam na casa do ditador, se estavam entre o ditador e os mísseis, sempre surgirá o estúpido a afirmar a covardia de Kaddafi “usando-as” como escudo. Sim, é genial!

Tão genial quando no episódio da morte de Bin Laden, desarmado como afirmou o secretário da Defesa dos EUA: se estava desarmado e se foi dominado pela tropa mais bem treinada das forças armadas americanas, por que matar? Ouvi um sem número de vezes tratar-se de gente rigorosamente perigosa, e ponto.

Como Júpiter, os americanos comem às suas próprias crias. A cria Saddam foi enforcada pelos fantoches do Iraque; a cria Bin Laden, destroçada pela tropa americana em terras do Paquistão. Do Iraque, até hoje, não se comprovou as alegações de existência de armas nucleares ou de destruição em massa; do Paquistão vem a notícia de que os mais comezinhos princípios de direito internacional foram violados. 

Novidade? Não! Recorram as páginas da história – não precisam ir longe – e recordar-se-ão de Granada, Haiti, Nicarágua, Panamá, e mais vários e vários eteceteras com invasões ilegais da cabeça do império. A violação do direito internacional é prática e especialidade dos americanos; assim afirma a ONU. Não vou nem falar dos regimes autoritários e sanguinários da América Latina flanando por décadas com a segurança dos porta-aviões USS nas nossas costas e com a garantia de transferência tecnológica em matéria de tortura e terrorismo de Estado.

Me espanta, nesta quadra do milênio 21, comemorações pela morte e, o pior, uma morte em circunstâncias que somente a história e os historiadores poderão nos contar.

Os netos de Kaddafi mereciam o protesto veemente das nações civilizadas. Não porque são netos do Kaddafi, mas por serem simplesmente crianças abatidas pela estupidez da guerra.

Certa feita, um jornalista com quem debatia sobre uma tragédia própria das grandes cidades, sustentou uma posição, do meu ponto de vista, estúpida. Disse isso a ele no ar. Retorquiu-me afirmando que a ação sobre a qual debatíamos também era estúpida. Não tive outra resposta: uma estupidez mais uma estupidez, somam duas estupidezes. Não existe a possibilidade de que uma iniquidade anule a outra, elas sempre serão somadas e o resultado final desta soma, para mim, chama-se bestialidade humana a ser convertida em mortes na tolice das guerras.

Ricardo Giuliani Neto é advogado em Porto Alegre, mestre e doutor em direito e professor de Teoria Geral do Direito na Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Sócio proprietário do Variani, Giuliani e Advogados Associados e autor dos livros "O devido processo e o direito devido: Estado, processo e Constituição" (Editora Veraz), "Imaginário, Poder e Estado - Reflexões sobre o Sujeito, a Política e a Esfera Pública" e "Pedaços de Reflexão Pública – Andanças pelo torto do Direito e da Política" (ambos da Editora Verbo Jurídico)

Nenhum comentário: