Ricardo Giuliani Neto - 02/05/2011
Um já falecido Deputado Estadual da minha terra, nos momentos em que eu explodia em crises de romantismo político e exigia coerências partidárias – lá se vão mais de 15 anos – chamava-me para um canto e sentenciava: “Se partido fosse bom, não seria partido, seria inteiro”. Lógico, dada a lição, baixava a sabedoria dos mais velhos: “Te acalma guri, desse jeito vais morrer do coração”.
Do coração não morri, e, inclusive, reduzi as úlceras; das três de antes, agora vivo na companhia de uma única; a maiorzinha, comeu as duas pequeninas.
Venho acompanhando os movimentos do novo partido brasileiro, o PSD. Como já disse o glorioso Veríssimo, não é um partido de esquerda, não é um partido de direita e, muito menos, um partido de centro. Então, é um partido de nada! Desde já me corrijo, não é pseudo coisa nenhuma!, é o que existe de mais verdadeiro e coerente com a política partidária brasileira atual. O PSD, do Kassab, é um partido de nada, nascido para dizer o nada! Outra autocorreção, tem sim algo a dizer: amém ao governo de plantão, e o amém, creiam, será programático, pois que pragmático o é por definição?
Pensam inovar? Não! O PTB esta em todos os governos e em todas as esferas, como o PP, o PMDB e... bom... deixem-me com a minha única e estimada úlcera!
A PSeuDo novidade é o esfacelamento dos DEMOs e dos Tucanos. A indignação do PPS do Pernambucano Roberto Freire, hoje deputado por São Paulo, denuncia a nova guerra do nada. Verberam: não admitimos estas mudanças! E, “atucanados”, vão-se à Justiça.
Mas e trocar de povo?!, não é mudar? Lógico, vivendo no mundo da política do “no dos outros é colírio” qualquer discurso adquire sentido, mais quando são esbravejados deles, pra eles mesmos.
Mudar, não é um problema em si; mudar é condição de progresso civilizatório. Mamar, sim, é um problema, mais quando as tetas são os ubres da pública, estatal, amada e idolatrada, salve, salve Geny Brasil!
E as carpideiras cumprem os seus papéis e o ParTido do governo central continua mais partido do que nunca. Sim, é uma federação de interesses paridos num rigoroso pragmatismo organizado federativamente e alegrado com o apoio do Partido do Nada, Amém, do PSD de Kassab, e de tantos, quase todos os outros. As adesões ao novo aparelho já transformaram esta agremiação numa das mais poderosas do Presidencialismo de Coalização Orçamentária, que dizem, daria governabilidade ao Brasil.
A vida é espantosamente dinâmica e eu amo minha solitária e parceira úlcera. O Comunista Aldo Rebelo – acreditem se quiserem –, hoje, é o dodói da UDR (União Democrática Ruralista). Sim, é o relator do novo Código Florestal e, por ser o que se propôs a ser, transformou-se na cereja do bolo dos rodeios, feiras e leilões de gado e de terneiros deste interiorzão do Brasil.
O Comunista fazendo a política do latifúndio. Estou mentindo? A política partidária brasileira está sendo estuprada. As coerências ideológicas, comprometidas, para não dizer cuspidas.
Falemos sério! Se partido fosse bom, seria inteiro. Opa! mais uma e derradeira autocorreção: não há mais partidos. Onde estão as ideologias? Perderam-se as feições e as caras das parcelas organizadas da sociedade que se propõem, quando no poder, dar concretude a um determinado programa fundado numa visão própria e parcial de mundo. Sim! vivemos o mundo total, integral, o mundo dos donos dos “aparelhos”; todos pensamos o mesmo, todos praticamos o discurso monocórdio e sem identidade.
É?, que partido seja parte, ou melhor, que voltem os partidos às bases fundadas na modernidade oitocentista. Cada parte da sociedade tem o direito de se fazer representar frente ao Estado e de mostrar a cara limpa com feições de pluralidade. Pelo menos assim saberemos quem é quem, de onde vem os políticos e para onde, cada um, quer nos levar. Do jeito que vai, o Partido “Total” do Brasil será o PSG, o Partido do Saco de Gatos.
Ricardo Giuliani Neto é advogado em Porto Alegre, mestre e doutor em direito e professor de Teoria Geral do Direito na Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Sócio proprietário do Variani, Giuliani e Advogados Associados e autor dos livros "O devido processo e o direito devido: Estado, processo e Constituição" (Editora Veraz), "Imaginário, Poder e Estado - Reflexões sobre o Sujeito, a Política e a Esfera Pública" e "Pedaços de Reflexão Pública – Andanças pelo torto do Direito e da Política" (ambos da Editora Verbo Jurídico)
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