Quem sou eu

Minha foto
Jaguariúna, SP, Brazil
Advogado e contabilista em Jaguariúna, SP. Sócio convidado da ACRIMESP - Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo, desde 11 de agosto de 1997, título de cidadão jaguariunense pelo Decreto Legislativo 121/1997 e membro titular do CONPHAAJ - Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico de Jaguariúna, nos biênios 2011 a 2012 e 2017 a 2018,

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Os demagogos, os Urubus e o crime de conversicídio.


Ricardo Giuliani Neto - 11/04/2011

De tragédia em tragédia vamos juntando demagogos, bandidos empetecados e armas montadas à base de falas e mídias. O projétil?, é a palavra; a pólvora?, as mídias.

Nada tem a potência para ferir mais que a palavra vã e descompromissada, o discurso fácil, a mentira política, as falas de ocasião e os altos voos dos urubus; nada dá maior propulsão à palavra que a mídia dando voz aos falastrões de plantão e aos demagogos de tigela e meia.

A cada tragédia, vem um discurso novo e uma montanha de políticos repaginando discursos de há muito ouvidos; na verdade, estes homens brutos deveriam vir à público para pedirem desculpas pela insuflação irresponsável de todos os dias.

O conversicídio é crime abominável pelo singelo fato de que a ele não há pena a ser aplicada pelas vias da construção civilizatória. Não há cadeia para os demagogos! E o pior de tudo, a pena que sobrevém, pelos atos dos conversadores de plantão, recai sobre os inocentes que vão vitimizados pela irresponsabilidade dos políticos que se auto-organizam em “classe”. Não são todos! Mas falo dos que falam. Os silenciosos?, vou pensar, podem ser piores do que aqueles que com desfaçatez hipnotizam a tropa mansa.

Falo de memória, de João Hélio, da menina “atirada” do edifício, dos mortos de Realengo. Falo da campanha pelo desarmamento e das legítimas expectativas de um povo amedrontado que andou, como massa, na esteira dos conversicídas. 

As 12 crianças do Realengo estão lá no céu, acompanhando as outras 15 pessoas mortas numa escola de Santo Antônio do Potengi no Rio Grande do Norte, em 1997.   

E os conversadores já voltaram à cena: Sarney quer o desarmamento, as discussões para ampliação do porte de armas foi suspenso, o Bolsonaro continua e continuará na Câmara dos Deputados a vomitar anti-humanidade.
Senhores, o nosso problema não são os bandidos, são os que ainda não se banditizaram.

A justificativa para o matador da escola do Rio Grande do Norte, um tal de Genildo, é que havia sido chamado de homossexual, foi lá e matou 15; O matador do Realengo, num sítio de relacionamentos, disse ter sido “bolinado” na escola, foi lá e matou 12.

No episódio do João Hélio os senhores Deputados, em menos de duas semanas, trataram de apresentar e aprovar um projeto de lei que oferecia o sangue dos criminosos ao povo. Resultado: na ânsia de respostas demagógicas acabaram abrandando a Lei dos Crimes hediondos.

No plebiscito do desarmamento, a cantilena de que o povo ordeiro e honesto ficaria desprotegido contra a bandidagem, patrocinaram uma lavagem democrática contra os a favor do desarmamento. E poderia ficar dois dias citando exemplos de conversicídios e demagogias de efeitos assassinos.

Não se tem conhecimento de um morto sequer por faca perdida! Por bala...

Imaginem se a moda pega: alguém, a partir das regurgitações bolsonarianas, poderia invadir o Congresso Nacional e saciar-se das injustiças cometidas contra um povo de boa fé que ainda acredita nos bons políticos. Não faltariam aplausos, isso eu sei. Os bárbaros se comportam como bárbaros!

A sociedade não se transforma a partir de um direito penal idiota que somente se preocupa em lidar com o senso comum. É um direito penal que entope as cadeias públicas com negros, pobres e analfabetos. É um direito penal que, para agradar ouvidos trouxas, cada vez mais, persegue as pessoas ao invés de julgar os fatos. É o direito penal da morte que produz morte.

Neste caminho não são somente os políticos os autores do crime de conversicídio, há agentes da lei metidos nesta cantilena assassina.

E nós, cidadãos ditos de bem, o que fazemos? Qual a nossa contribuição nesta quadra da história? E a mídia? Que contribuições oferece para nós outros ao mostrar as entranhas dos sentimentos mais íntimos de mães e pais que não mais poderão abraçar seus pequenos filhos?

Somos hipócritas e o nosso voo é o do urubu: voamos alto na busca da mais podre carniça! Voamos alto com os sonhos vendidos pelos demagogos e conversicídas! Voamos quase no céu, próximos às criancinhas que matamos todos os dias como forma de saciar a nossa fome de humanidade e de civilização.

Ricardo Giuliani Neto é advogado em Porto Alegre, mestre e doutor em direito e professor de Teoria Geral do Direito na Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Sócio proprietário do Variani, Giuliani e Advogados Associados e autor dos livros "O devido processo e o direito devido: Estado, processo e Constituição" (Editora Veraz), "Imaginário, Poder e Estado - Reflexões sobre o Sujeito, a Política e a Esfera Pública" e "Pedaços de Reflexão Pública – Andanças pelo torto do Direito e da Política" (ambos da Editora Verbo Jurídico)

Nenhum comentário: